EGUNGUN 

É a morte que volta a terra em forma espiritual e visivel, aos olhos dos vivos. Ele nasce atraves de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos ojes(sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixâ, que, quando tocado na terra por tres vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que Egungun ancestral individualizado esta de novo vivo.

Em alguns vilarejos a aparição dos Egunguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos Orisás, apresentando-se com uma forma humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio.

Nos dias atuais se veêm numa minoria rituais de Egungun somente a energia do ancentral sob a roupa, e a maioria dos demais encontram-se os mariwos( iniciados no culto de egun), sob um transe tipo mediúnico,porem contra dizendo a lei do culto, os mariwos nãopodem cair em transe, de qualquer tipo que seja.

A Sociedade Orò (Orùn ou Orò Lewe)


Para chegar a entender o conceito do que para os Iorúbàs representam as Sociedades Secretas, devemos entender que

estas chegaram a semear o terror em épocas passadas.

Em realidade, o poder estava menos em mãos dos reis e anciãos, do que de numa Sociedade secreta poderosa, cujos

emissários se ocultavam embaixo máscaras, o que lhes permitia conseguir sem resistência alguma o que desejavam.

A Sociedade Secreta Orò, chegou às mãos dos homens através do seguinte raciocínio:  Olódùmarè, o deus criador, deu

a primeira mulher, Odù, a capacidade de deleitar-se com a vida.

Não obstante, ela fez mal uso deste poder, e todos os que a olhavam na face corriam o perigo de acabar cegos. Òbàtàlá

se dirigiu então a Òrúnmìlà, o senhor das profecias, este lhe aconselhou a través do Oráculo de Ifá que tivesse

paciência.

Odù pediu a Òbàtàlá que fosse a sua casa viver com ela e visse o que fazia. Um dia Òbàtàlá ofereceu como sacrifício

alguns caracóis (Igbin). Comeu a baba de um deles e ofereceu também a Odù.

A mucosidade do caracol abrandou o coração de Odù, de forma que Òbàtàlá pode conhecer todos seus segredos,

incluído o da sociedade Orò e Egúngún.

Deste momento em diante, estas sociedades, estão em poder dos homens. Odù recomendou buscar a benevolência e a

aceitação das mulheres para que estas seguissem sendo mães.

Assim se fez e os homens tiveram poder sobre as mulheres, porém estas tiveram em suas mãos o poder sobre a vida.

Se não tivesse sido assim, não haveriam nascimentos. 

A Sociedade Orò é considerada entre os Iorúbàs a mais poderosa. Entre os Oyo e os Egba (cuja capital é Abeokuta) seu

poder político supera as exigências religiosas.

Orò possui o direito de vigiar se os governantes respeitam os preceitos morais divinos. Em suas mãos está a

salvaguarda da ordem tradicional, o conhecimento e cuidado dos mitos, o folclore e a historia.

Seu saber encerra a sabedoria da sociedade. Orò antes do período colonial tinha o direito de condenar a morte em

tribunais secretos e justiçar os condenados.

Não obstante Orò desempenha também outras funções sociais. Os membros de sua sociedade se preocupam em

enterrar adequadamente os mortos e conseguir que suas almas cheguem com segurança ao reino dos defuntos; e dá

também sepultura à aquelas pessoas que tenham tido uma má morte, por exemplo os assassinados ou por acidente.

Orò está basicamente a serviço dos espíritos dos mortos e Baba Egun e por isso só aparecem de noite. Seu emblema é

um pedaço plano de ferro ou madeira (sobre tudo de madeira de Óbó ou Kam, que as bruxas (Aje) não podem ver nem

farejar, presa a um cabo com corda, o que a converte em uma madeira que zumbi (emitindo um som todo particular ao

ser manuseada) isso quase não se vê em terras brasileiras.

Cada Sociedade dispõe normalmente de dois tipos destes utensílios. Um é pequeno e se conhece com o nome de Ise

(moléstia) e o tom estridente que produz, se conhece como Aja Orò / Aaja Orò ( Cachorro de Orò / Vento de Orò = Orò Afefe Ikú! ).

O outro provem dos madeiros grandes chamados Agbe (espada) e emite um tom surdo que é considerado como a

mesma voz de Orò, este som anuncia que a morte está ameaçando alguém.

Orò reproduz a voz dos mortos e por isso se diz que são eles os chamam. Antigamente aviam sete dias do ano, (as

vezes eram nove) dedicados a adoração de Orò sempre em época de lua nova.

Os adeptos da sociedade(entre os de Abeokuta),costumavam levar máscaras de madeira, porém estas não chegam a

cobrir todo o rosto da pessoa.

A ORIGEM DO CULTO AOS ANCESTRAIS E SEUS RESPECTIVOS CARGOS

Em terras da África, viveu entre os iorubas um rico fazendeiro (àgbè) que atendia pelo nome Àlápinni.

O conceituado senhor de fazendas possuía três filhos que, ao serem batizados, receberam os nomes de Òjèwumi (Aquele que é adorado pelos ancestrais), Ojèsanmi (Os ancestrais são bons para mim) e Ojèrinnlò (Aquele para quem os ancestrais cantam quando vão embora).

Esses rebentos amava-os acima de tudo, sendo capaz de dar sua própria vida em troca de suas existências.

Certa ocasião, quando seus filhos ainda eram adolescentes, Àlápinni necessitou viajar a negócios, todavia, desta vez, como o percurso era longo e sua ausência seria demorada, resolveu, antes de seguir viagem, reunir seus filhos para poder-lhes passar as determinações inerentes aos afazeres das fazendas.

Quando terminou de instruí-los, recomendou-lhes ter muita cautela quando da colheita e armazenamento dos inhames comestíveis, uma vez que, junto aos mesmos, era comum a proliferação de um determinado tubérculo que causava sede intensa a quem comesse e, posteriormente, a morte.

Infelizmente, a displicência era o maior dos estereótipos de seus filhos. Sendo assim, não dando atenção às determinações emanadas pelo pai, alimentaram-se demasiadamente do inhame do qual ele havia falado.

Ao passar de algumas horas, os jovens foram tomados por uma sede ininterrupta e, não conseguindo contê-la, começaram a beber água em demasia, um a um, até tombarem sem vida.

Passados alguns dias, Àlápinni retorna a sua terra natal.

Ao se aproximar da casa onde morava, começou a chamar pelo nome dos seus três filhos e, de braços abertos, correu para dentro de casa tal qual era o seu costume sempre ao retornar das viagens que fazia.

Infelizmente, ao adentrar sua casa, não encontrou seus filhos.

Seus serviçais em prantos e pesarosos lhe informaram de que haviam morrido logo após as colheitas dos inhames.

Eles o desobedeceram; comeram do inhame proibido.

Desesperado, face à desgraça que havia se abatido em sua família, Àlápinni solicitou uma audiência com o adifá da cidade.

Esse lhe disse: “Deves te acalmar. Nada posso fazer no momento.

Voltes somente quando completar dezessete dias da morte de teus filhos, aí, sim, eu poderei acessar o oráculo e saber quais as providências a serem tomadas, uma vez que teus filhos morreram envenenados”.

Passados os dias determinados, Àlápinni retornou à morada do adifá, na esperança de que o mesmo conseguisse comunicá-lo com os espíritos dos seus três filhos.

O sacerdote, após acessar o Oráculo Sagrado de Ifá, disse-lhe: “Deves ir até a margem do ribeiro que corta o bosque da cidade.

Ao chegares à entrada do bosque, pedirás permissão para adentrá-lo. Logo após, dirigir-te-ás até o local onde se encontra a árvore sagrada Atòrì.

Dela retirarás um galho reto fazendo em seguida com o mesmo um bastão.

No momento em que estiveres retirando o galho da árvore, pronunciarás:
“Dàgò Lùewéko.

Wárawèré kékúrò èka re.

Tèyetèye kékúrò ewéko.

Pèlépèlé derùlé ewébe re”.


“Peço licença ao dono das folhas,

Moderadamente colho um dos seus galhos.

Respeitosamente colho plantas.

Cautelosamente carrego suas plantas”.

Após todo esse processo, dirigir-te-ás à margem do ribeiro.

Lá baterás com o bastão (isan) no solo por três vezes consecutivas, chamando pelos nomes dos teus filhos falecidos, ofertando, em seguida, as iguarias destinadas aos espíritos dos mesmos”.

Àlápinni, ao realizar na íntegra todas as instruções emanadas pelo adifá, viu seus filhos aparecerem a sua frente.

Ao vê-los, o fazendeiro se aterrorizou.

Alguns minutos depois, em prantos, assustado e ainda aterrorizado, Àlápinni pediu ao espírito de cada filho que ficasse na floresta junto ao ribeiro, aguardando-o enquanto iria mandar confeccionar belíssimas vestes adornadas com búzios, espelhos, fitas, miçangas, riquíssimas calças compridas e justas (kàfó), tiras de pano de várias tonalidades (àbalá), avental (bànté), máscara (íbomólè) com vastos penteados feitos com palha da costa e adornados com contas da erva conhecida por lágrima de nossa senhora (tésúbíyù), uma vez que as pessoas do vilarejo não poderiam vê-los naquele estado.

Assim ele o fez, pois seus filhos estavam totalmente em processo de decomposição.

Neste bosque, Àlápinni construiu um altar coletivo (ojúbo), dando-lhe o nome de Casa de adoração aos mortos (Ìlé bo ìkú), selando, em seguida nesse mesmo local, um pacto com o espírito de cada um dos seus filhos. Esse trato consistia em encontrarem-se naquele lugar no décimo sétimo dia de cada mês, para realizarem festas e oferecerem iguarias em suas homenagens.

E assim, Àlápinni e toda a sua comunidade passaram a se encontrar com os espíritos de Òjèwumi, Ojèsanmi e Ojèrinnlò no décimo sétimo dia de cada mês.

Quando eles apareciam, saudavam-nos, ofereciam-lhes iguarias, davam-lhes de beber vinho de palma e repetiam rezas (adúrà) quando os mesmos chegavam ou iam embora.

“Ilè mo pè o!

Egúngún o!

Agoro kìì ngbó ekún omo re.

Ki o saré wá jé wa o.

Egúngún bo mo te’ri o.

Bàbá awa àwon omo re ni a npè o.

Bí ìgbá-àtorunwá tí ìrawo nselé de òsùpá àidéle.

E je ki ng’maa l’ayò -`ayoju, àláàfia, ãsikí.

Bó o bá tún di àmòdún, kí a tún pé jo, pèlú àláàfia àti ayò.

Bí Olorun bà fé”.

“Terra, eu te chamo!

Ancestral, eu te saúdo!

Agoro, ao ouvir o choro dos filhotes, corre rapidamente para defendê- los.

Vem logo nos ouvir.

Ancestral está chegando, curvo minha cabeça.

Ó, pai, somos teus filhos e te chamamos.

Protege nossa casa como a estrela protege a abóbada celestial na ausência da lua.

Que eu continue a ter alegria, paz e prosperidade.

Que ao chegar o próximo ano, estejamos reunidos, com saúde e felicidade.

Se Olorun, o Onipotente, assim o permitir”.
IFA GBE AWO!

Os Egúngún

Os Iorubás, assim como os demais povos africanos, crêem na existência ativa dos antepassados.  

Para eles a morte não representa simplesmente o fim da vida humana, mas a vida terrestre que se prolonga em direção à vida além-túmulo, em algum dos nove espaços do òrun (céu), no domínio dos seres desprovidos do èmì (O sopro da vida). 

 Assim, a morte não representa uma extinção, mas a mudança para uma outra fase.

A morte é denominada Ìkú, e trata-se de uma divindade masculino.  Ìkú (a morte), é visto como um agente criado pôr Olódùmarè para remover as pessoas cujo tempo no àiyé (terra), tenha terminado. 

Sua lógica é para as pessoas mais velhas, que devem viver até uma idade avançada.  Pôr isso , quando uma pessoa jovem morre, o fato é considerado tragédia;  pôr outro lado, a morte de uma pessoa idosa é motivo para se alegrar.  

Para osIorubá, existe um mundo em que vivem os homens em contato com a natureza, o nosso mundo, dos vivos, que eles chamam de àiyé (terra) e um mundo sobrenatural, onde estão os òrìsà, outras divindades e espíritos, e para onde vão os que morrem, mundo que eles chamam de òrun (céu). 

Quando alguém morre no àiyé, seu espírito, ou uma parte dele, vai para o òrun, e de onde pode retornar ao àiyé, nascendo de novo, reencarnando.

Os espíritos retornam à vida, na comunidade familiar tão logo possam.  Os espíritos dos mortos ilustres (reis, heróis, grandes sacerdotes, fundadores de cidades e de linhagens nobres) são cultuados e se manifestam nos festivais de Egúngún no corpo de sacerdotes mascarados, quando transitam entre os humanos, julgando suas faltas e resolvendo as contendas e pendências de interesse da comunidade.

A  família é o suporte fundamental, e guardiã das regras necessárias para a conduta individual e coletiva, a espiritualidade impregna a comunidade, o homem, as coisas, a natureza, e é um código cuja a aplicação é zelada pelos Àgbà (anciões), que desempenham papel de biblioteca viva no sentido de sabedoria ancestral, toda esta ordem da vida comunitária é regulada e mantida também através dos Egúngún que nestes casos atuam como fiscalizadores da família e do bom andamento da vida.    

O encaminhamento do espírito, depois dos rituais realizados, corresponde a passar de volta pelo portão de Oníbodè (porteiro do céu) em direção a Olódùmarè, para receber o julgamento de seus atos na terra.

De acordo com o òrun ao qual foi destinado, continuará a exercer suas funções familiares, agora de modo mais poderoso sobre seus descendentes que a ele continuam a se referir como bàbá mi (meu pai), ou ìyámi (minha mãe). 

Ao seguirem para o òrun, os ancestrais são libertos de todas as restrições impostas pela terra;  dessa forma, adquirem potencialidades que podem ser usadas para beneficiar seus familiares que ainda estão na terra.

Pôr essa razão, é necessário mantê-los num estado de paz e contentamento. 
Quando dissemos que existe um culto ao ancestral, queremos dizer que uma manifestação de relacionamento familiar indestrutível entre o membro da família que partiu e seus descendentes que aqui ficaram.  

O Òrun (céu) é dividido em espaços para acomodar todos os tipos de espíritos. São em número de nove, segundo as tradições Iorubá:  

Òrun Alàáfià: Espaço de muita paz e tranqüilidade, reservado para pessoas de gênio brando, ou índole pacífica, bondosa, pacata.

Òrun Funfun: Espaço do branco e da pureza, reservado para os inocentes, sinceros, que tenha pureza de sentimento, pureza de intenções.

Òrun Bàbá Eni: Espaço reservado para os grandes Sacerdotes eSacerdotisas.

Òrun Aféfé: Espaço da aragem, reservado para as oportunidades e correção para os espíritos, possibilidades de reencarnação, volta ao AIYE.

Òrun Ìsòlú ou Àsàlú: Espaço reservado para o julgamento por Olòdùmarè para decidir qual dos respectivos òrun o espírito será direcionado.

Òrun Àpáàdì: Espaço reservado para o lixo celestial, das coisas quebradas, para os espíritos impossíveis de serem reparados e restituídos à vida terrestre.

Òrun Rere: Espaço reservado para aqueles que foram bons durante a vida.

Orun Burúkú: Espaço ruim, quente como pimenta”, reservado para as pessoas más.

Òrun Mare: Espaço reservado para aqueles que permanecem, tem autoridade absoluta sobre tudo o que há no céu e na terra e são incomparáveis e absolutamente perfeitos, os supremos em qualidades e feitos, reservado a Olódùmarè, todos os ORISA e divinizados.

Os mortos são encaminhados a um desses espaços após o fator decisivo do julgamento divino. 

O juízo final fica a cargo de Olòdùmarè, decidindo quais são os bons e quais são os maus, e os encaminham para o respectivo òrun. 

O julgamento é baseado nos atos praticados na terra e devidamente registrados no Orí inú, que retorna para Olódùmarè. 

Somente quando se é absolvido pôr Olódùmarè é que se tem a oportunidade de reunir-se com seus ancestrais, podendo-se reencarnar e nascer dentro da mesma família.

Se alguém, porém, é condenado, vai para o Òrun Àpáàdi, onde irá sofrer com os maus.  

E quando finalmente for libertado, não terá a oportunidade de viver uma vida normal, será condenado a errar, pôr lugares solitários.

Através do culto aos ancestrais, os Egúngún, é  reconstruída a origem, etnia e memória.

Essa memória, enraizada na herança africana, cresce com força total, a ancestralidade mítica e histórica, marca a existência de uma forte comunidade.

É na memória e no culto aos antepassados  que essa comunidade se afirma.  

Neles se continua e se renova o culto  das entidades sagradas, a tradição  dos òrìsà e dos ancestrais ilustres, Egúngún.

Sociedade Egúngún têm como finalidade celebrar ritos a homens que foram figuras destacadas em sua sociedade ou comunidade quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma privilegiada.

Egúngún é a materialização da morte sob tiras de pano, e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial.

Em sua comunicação com os seus familiares ele usa uma voz forte e grossa,  denominada de séègì, não podemos esquecer que a palavra é a memória viva na África, afinal a tradição oral é a grande escola da vida , é através dela que os Egúngún se comunicam com seus descendentes, e transmitem seus ensinamentos, pois quando morre um ancião, é como se uma grande escola se perdesse.

IFA GBE AWO!

 

 

EGUNGUN – A NOSSA ANCESTRALIDADE

BABA EGUNGUN OLOMO KI NSUN O

MAA SUN KI O MAA GBAGBE ILE

MA FI OWO DIGI IGBAGBE MU LORUN

UM ANCESTRAL QUE POSSUI FILHOS E DEVOTOS NAO DORME

NÃO DORME E NAO ESQUECE SUA CASA

NO ORUN, MEU PAI, JAMAIS ABRACE A ARVORE DO ESQUECIMENTO (JAMAIS ESQUEÇA AS PESSOAS QUE TE

LOUVAM)

De acordo com o Corpus literário de Ifa, Ori reside alternativamente na terra (aye) aonde somos conhecidos como ara

aye (habitante da terra) e no Orun, espaço ancestral, aonde somos conhecidos como Ara Orun, ou cidadão do orun.

Sendo assim, podemos concluir que a crença na ancestralidade esta baseada em dois conceitos extremos: 

Aye – mundo concreto 

Orun – espaço ancestral 

É sabido por todos, que os seres humanos têm sua origem ligada a um destino que começa a ser determinado no

momento da fecundação, e que, sendo assim, o mesmo passa por dois estágios, nascimento e morte, ou seja, dois

nascimentos, uma vez que na concepção yoruba, a morte não é o fim e sim, apenas o inicio de um novo ciclo.

O EMI (função vital que interage junto à ori) perpetuasse, uma vez que o mesmo esta associado ao nosso duplo no Orun

(egbe orun), sendo assim independente de que ciclo Emi esteja associado , o mesmo circula entre o Orun e o Aye,

criando um movimento e assim a possibilidade de manutenção concreta da energia ancestral.

Sendo assim, podemos concluir que sem a presença de Ori, e também do Emi, tornasse, sem sombra de dúvidas,

impossível cultuarmos a ancestralidade.

Independente da idade do Baba Egun, com certeza, o mesmo para ser assentado necessitou de Ases da pessoa a qual

aquele ancestre trará proteção, e o seu culto, na comunidade fará com que, com o passar do tempo, o mesmo abençoe

seus devotos, saindo apenas do âmbito familiar.

Então faremos a clássica pergunta, se baba egun esta ligado a ancestralidade individual, como o mesmo pode abençoar

mais de um devoto?

E também, como seria possível um Oje invocar e evocar seu baba egun independente do local que se encontre?

A resposta a essa questão e muito simples e se encontra presente em uma parte de um determinado Oriki direcionado a

Baba Egun:

IBA ENI SOJE KI NTO MORA SÉ

EDUN GBONRAGANDA

A GBE AYE GBE ORUN

O grande venerável que vive entre os vivos e os mortos 

que se dobra em milhares de partes 

cidadão vindo do orun distante

MO RI AKUKO KAN SOSO BO IGBA EGUNGUN

Eu tenho um único galo para oferecer a 201 egunguns.

Em relação ao fato de um baba egun ser assentado somente em último caso em uma casa de orisa, discordo por

diversos fatores:

1) A ancestralidade é algo concreto , enquanto existir o homem , tempo e desejo , existira o culto a baba egun. Em outro

oriki de baba egun, dizemos que por mais problemas que tenhamos, nós que temos nossos ancestrais no orun estamos

tranquilos, pois todas as nossas aflições e a solução das mesmas se encontram nas mãos de NOSSOS BABAS.

2) É NECESSÁRIO ENTENDERMOS AS DIFERENÇAS ENTRE INICIAÇÃO E ASSENTAMENTO:

INICIAÇÃO: despertamos nos seres humanos características que já se encontram presentes em nosso Ori.

ASSENTAMENTO: buscamos suprir algo que não esteja presente em nossa essência.

Sendo assim, o culto a ancestralidade e algo presente na vida dos seres humanos, uma vez que um ser humano sem

seus ancestres e o mesmo que uma arvore sem raiz. O fato de que todos podem e devem cultuar sua ancestralidade,

seja para buscarem maior movimento em sua vida, seja apenas para agradecermos aos ancestrais a oportunidade de

estarmos vivos, seja pelo simples fato de estarmos em contato com energias que foram de sua importância para

manutenção de nossa família, nada têm a ver com a questão dos mesmos poderem ou não se tornar sacerdotes de

Baba Egun.

OKU OLOMO KI NSUN, O DI OWO BABA MI LORUN.

Um ancestral não dorme, não esquece as pessoas que deixou para traz; a solução de todas as dificuldades em minha

vida está nas mãos de meus ancestrais no Orun.

Acredito que ao avaliarmos os acontecimentos e a estruturação do culto a Baba Egun na diáspora seja ela brasileira ou

cubana, devemos, em um primeiro momento separarmos, fundamentos religiosos e condicionamento cultural. Acredito

que pessoas que vieram antes de nós, fizeram o possível, para que nossas tradições se mantivessem através dos

tempos, e o fato de eu, particularmente, ter optado por seguir o culto tradicional, em momento algum tira meu respeito

conhecimento e admiração pelas nossas tradições e consequentemente pelas pessoas que lutaram para que ela se

perpetuasse.

Porém, reconheço que muito se perdeu. E a falta de determinados conhecimentos fez com que um certo misticismo

criasse um determinado temor para justificar muitas práticas.

Aqui dizíamos, até muito pouco atrás, que mulheres não participam do culto a baba Egun, mas podemos perceber, em

um dos mais variados ORIKIS – EWI – ESA justamente o contrário:

BI OBINRIN MO AWO

BI OKUNRIN MO AWO

KO GBODO WI

KO GBODO FO

KO GBODO SO

EGUNGUN ILE BABA AJOFOYINBO OOOOO

OMO A REKU , TOSI NU

ODUN BABA WA LA NSE O

Igba yi a gbe wa

A mulher que conhece o segredo, não deve revela-lo

O homem que conhece o segredo, não deve revela-lo

Eles não devem abrir a boca

Eles não devem falar

Chegou o Egungun Baba Ajofoyinboooo

que venerando seus ancestrais afasta a pobreza e a doença

estamos venerando nosso pai ,

esse tempo nos será favorável.

Aqui dizemos que não se pode tocar em Baba Egun, que o contato com a roupa e prejudicial, mas o que vemos em

território africano e totalmente diferente.

Baba Egun com crianças no colo, abraçando seus filhos e devotos, muitas vezes inclusive, louvando, e pedindo proteção

a crianças:

EGUNGUN BABA AJOFOYINBO OOOOO

OMO LAGBAJA RE O 

MA JE IKU O PA O 

MA JE ARUN O SE 

JE O DAGBA

KI O GBEYIN BABA ATI IYA 

KI O SE ORI RE 

MA JE OSO , OLOGUN IKA O RI PA 

MA JE AJE OLOGUN IKA O RI PA 

Egungun Baba Ajofoyinbo ooooooo

aqui esta o filho de :

proteja-o contra a morte 

proteja-o contra a doença 

ajude-o a viver bastante 

que ele não morra antes dos pais

que tenha muita sorte na vida 

proteja-o para que não seja destruído pelos feiticeiros 

proteja-o para que não seja destruído pelas feiticeiras .

Em momentos de dificuldade, crises familiares consangüíneas ou religiosas Babam Egun, muitas vezes atuam como

juízes, uma vez que os envolvidos são levados a sua presença e após a apresentação e correta evocação, são feitos os

relatos do ocorrido.

As citações acima mostram a influência e a importância da ancestralidade nas relações sociais e cotidianas.

Um ancestral insatisfeito com comportamentos sociais inaceitáveis, como adultério, desrespeito aos mais velhos,

transgressões de interdições ou o não cumprimento de leis que regem a vida social do povo, muitas vezes atua como

conselheiro, avaliando as situações a aconselhando seus filhos e devotos, para que a ordem seja restabelecida.

Além de prestar auxílio ligado a ordem social, os ancestrais são evocados para auxiliar no progresso da agricultura,

garantindo chuvas e boas colheitas, etc.

E impossível avaliarmos os acontecimentos passados, para que possamos entender o porquê o culto a BABA EGUN foi

desassociado do culto a Orisa. Mas devo mencionar que o mesmo ocorreu com o Ifa.

Na Nigéria e no Benin, esses cultos não são diferentes, interagem juntos, são partes de um todo e a verdade maior disso

tudo esta na IGBA ODU, ou cabeça da existência, representando os dois espaços, Céu e terra, Orun e Aye e as

divindades e manifestações energéticas que interagem em conjunto.

Em meu ponto de vista, é impossível falarmos de nossa religião, sem darmos aos ancestrais o verdadeiro papel que eles

merecem.

Ancestrais não devem ser temidos, devem ser amados e louvados, e nós, Sacerdotes capacitados para trazermos o

conhecimento e a liturgia ancestral, devemos nos conscientizar assim como os demais praticantes da importância de ter

acesso as possibilidades criadas ao estarem em contato com os mesmos.

Não existe diferenciação dos BABAS EGUNS cultuados na Ilha, dos cultuados no Benin ou na Nigéria, ou mesmo os que

podem vir a ser cultuados nos ILES LESSE ORISAS, existe a necessidade de conscientizarmos e prepararmos

sacerdotes para que possamos lhes render homenagens.

IBA NBE LENU MI O O

ASE SI NBE LOWO ARA ORUN

E MAA JE IBA O WUN WA O O

SE TE FUN WA , OUN LA NLO

I O BA SI ATO ASE KI NDOMO

BI O BA SI ASE ATO KI NDOMO O O

AWA LASE

ENYIN LATO

AWA LATO

ENYIN LASE

A forma correta de saudar esta em minha boca

O ase esta junto ao venerável cidadão que vêm do céu

Permitam que minhas saudações sejam favoráveis

Estou evocando o ase que vc nos deu

Sem o poder do sêmen o ovulo não fecunda

Sem o poder do óvulo o sêmen não fecunda

Vocês são o sêmen

Oriki Egungun 


Egúngún gún ani o gún. Akala ka ani oka lekeleke foso.
Ani ofun fun a difa fun. Òrúnmìlà Baba n’on ko lase lenu mo.
Woni kolo pe Baba pe lode Òrún. Tani Baba Òrúnmìlà, morere ni Baba Òrúnmìlà
Mije morere no o. To ase si ni lenu morere mi o. Ase.

O espírito dos Antepassados monta os médios suavemente, enquanto o abutre voa sobre a cerimônia como uma

serpente.


O pássaro branco emplumado limpa os flashes da luz. A sabedoria de Orunmila, o Espírito do Destino, emite seus

flashes de luz.

A sabedoria vem da rainha do céu, o reino dos antepassados. Vejamos Òrúnmìlà, o Espírito do Destino, de quem a boa

fortuna vem.


Os sete raios irradiam seu poder sobre nós. Os sete raios da luz representam as faculdades espirituais que nos

chegam. 

Assim seja.

IFA GBE AWO!

error: IFA DIZ NO ODU ODUNDARETE: QUEM IMITA FRACASSA!