IBEJIS

Na Africa as crianças representam a certeza da continuidade, por isso os pais consideram seus filhos sua maior riqueza.

a preocupação com o sustento delas é frequente entre os povos, a palavra Igbeji quer dizer duplamente duplo.

Na Africa é indispensavel em todos os cultos, porem em terras brasileiras foi associaso erroneamente aos erês de outros

cultos, eles são a contradição, os opostos que caminham juntos a dualidade de todo o ser humano.

Dá o nome de Taiwo ao primeiro gêmeo gerado e o de Khinde ao ultimo.

IBEJIS FIZERAM A MORTE DANÇAR

Na velha aldeia de Ifá tudo transcorria normalmente todos faziam seu trabalho, as lavouras davam seus bons frutos, os

animais procriavam, crianças nasciam fortes e saudáveis.

Mas um dia Iku resolveu concentrar ali sua colheita aí tudo começou a dar errado as lavouras ficaram inférteis, as fontes

e correntes de água secaram, o gado e tudo o que era bicho de criação definharam já não havia o que comer e beber.

No desespero da difícil sobrevivência, as pessoas se agrediam umas às outras, ninguém se entendia, tudo virava uma

guerra. 

As pessoas começaram a morrer aos montes instalada ali no povoado, Iku vivia rondando todos, especialmente as

pessoas fracas, velhas e doentes.

Iku roubava essas pessoas e as levava para o outro mundo,longe da família e dos amigos, Iku tirava a vida delas.

Na aldeia morria-se de todas as causas possíveis de doença, de velhice, e até mesmo ao nascer morria-se afogado,

envenenado, enfeitiçado, morria-se por causa de acidentes, maus-tratos e violência 

Morria-se de fome, principalmente de fome.

Mas também de tristeza, de saudadee até de amor Iku estava fazendo o seu grande banquete.

Havia luto em todas as casas todas as famílias choravam seus mortos O rei mandou muitos emissários falar com a

malvada, mas Iku sempre respondia que não fazia acordos que ia destruir um por um, sem piedade se alguém fosse

forte o suficiente para enfrentá-la, que tentasse, mas seu fim seria ainda muito mais sofrido e penoso.

Ela mandou dizer ao rei, por fim:

“Para não dizerem que sou muito rabugenta, até concordo em dar uma chance à aldeia.

E ria e escarrava ao mesmo tempo, dizendo:

“Basta que uma pessoa me obrigue a fazer o que não quero

Se alguém aqui me fizer agir contra a minha vontade, eu irei embora.

Depois, cuspindo nos seus interlocutores, completou:

“Mas só vou dar essa oportunidade a uma única pessoa

Não vou dar nem a duas, nem a três.”

E foi-se embora dali, saboreando antecipadamente mais uma vitória

Mas quem se atreveria a enfrentar Iku?

Quem, se os mais bravos guerreiros estavam mortos ou ardiam de

febre em suas últimas horas de vida?

Quem, se os mais astutos diplomatas havia muito tinham partido?

Foi então que dois meninos, os IBEJIS, os irmãos gêmeos TAIWÓ e KEHINDE filhos do Orisá Sàngó e da Rainha

Osun, resolveram pregar uma peça na horrenda criatura. 

Antes que toda a aldeia fosse completamente dizimada, eles resolveram dar um basta aos ataques de Iku.

Decidiram os IBEJIS:

“Vamos dar um chega-pra-lá nessa fedorenta figura.”

Os meninos pegaram o tambor mágico, que tocavam como ninguém, e saíram à procura de Iku.

Não foi difícil achá-la numa estrada próxima, por onde ela perambulava em busca de mais vítimas. 

Sua presença era anunciada, do alto, por um bando de urubus que sobrevoavam a incrível peçonhenta.

E o cheiro, ah, o cheiro!

O fedor que Iku produzia à sua volta faria vomitar até uma estatueta de madeira.

Os meninos se esconderam numa moita e, tapando o nariz com um lenço,esperaram que ela se aproximasse.

Não tardou e Iku foi chegando os irmãos tremeram da cabeça aos pés.

Ainda escondidos na moita, só de olhar para ela sentiram como os pêlos dos seus braços se arrepiavam.

A pele era branca, fria e escamosa; o cabelo, sem cor, desgrenhado e quebradiço.

Sua boca sem dentes expelia uma baba esbranquiçada e purulenta.

Seu hálito era de um fedor tremendo.

Mas podia-se dizer que Iku estava feliz e contente.

Ela estava até cantando!

Pudera, tendo ceifado tantas vidas e tendo tantas outras para extinguir.

Mas o canto de Iku era tão cavernoso e desafinado que os  passarinhos que ainda sobreviviam silenciavam como se

fossem mudos brinquedos de pedra.

O canto de Iku, se é que podemos chamar aquele ruído de canto, era tão desconfortável e medonho que os cachorros

esqueléticos uivavam feito loucos e os gatos magrelos bufavam e se arrepiavam todos.

Nesse momento, numa curva do caminho enquanto um dos irmãos ficava escondido, o outro saltou do mato para a 

estrada, a poucos passos de Iku. 

Saltou com seu tambor mágico, que tocava sem cessar, com muito ritmo.

Tocava com toda a sua arte, todo o seu vigor.  

Tocava com determinação e alegria.

Tocava bem como nunca tinha tocado antes Iku se encantou com o ritmo do menino. 

Com seu passo trôpego, ensaiou um dança sem graça.

E lá foi ela, alegre como ninguém, dançando atrás do menino e de seu tambor, ele na frente, ela atrás o espetáculo era

grotesco,a dança da Morte era, no mínimo, patética.

Bem; lá ia o menino tocador e atrás ia Iku. 

Passou-se uma hora, passou-se outra e mais outra.

O menino não fazia nenhuma pausa e Iku começou a se cansar.

O sol já ia alto, os dois seguiam pela estrada afora, e o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá.

O dia deu lugar à noite e o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá

E assim ia a coisa, madrugada adentro.

O menino tocava, Iku dançava.

O menino ia na frente, sempre ligeiro e folgazão Iku seguia atrás, exausta, não agüentando mais pára de tocar, menino,

vamos  descansar um pouco, ela disse mais de uma vez.

 Ele não parava,

“Pára essa porcaria de tambor, moleque, ou hás de me pagar com a vida”, ela ameaçou mais de uma vez.

E ele não parava,

“Pára que eu não agüento mais”, ela implorava, 

E ele não parava,

TAIWÓ e KEHINDE eram gêmeos idênticos, ninguém sabia diferenciar um do outro, muito menos Iku, que sempre foi

cega e burra.

Pois bem, o moleque que Iku via tocando na estrada sem parar não era sempre o mesmo menino.

Uma hora tocava TAIWÓ, enquanto KEHINDE seguia por dentro do mato.

Outra hora, quando TAIWÓ estava cansado,

KEHINDE, aproveitando um curva da estrada, substituía o irmão no tambor.

TAIWÓ entrava no mato e acompanhava a dupla sem se deixar ver No mato o irmão que descansava podia fazer

xixi, beber a água depositada nas folhas dos arbustos, enganar a fome comendo frutinhas silvestres.

Os gêmeos se revezavam e a música não parava nunca, não parava nem por um minuto sequer.

Mas Iku, coitada, não tinha substituto, não podia parar, nem descansar, nem um minutinho só. 

E o tambor sem cessar, tá tá tatá tá tá tatá.

Ela já nem respirava:

“Pára, pára, menino maldito.”

Mas o menino não parava.

E assim foi, por dias e dias,

Até os urubus já tinham deixado de acompanhar Iku, preferindo

pousar na copa de umas árvores secas.

E o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá, uma hora TAIWÓ, outra hora KEHINDE.

Por fim, não aguentando mais, a aparição gritou:

“Pára com esse tambor maldito e eu faço tudo o que me pedires.”

O menino virou-se para trás e disse:

“Pois então vá embora e deixe a minha aldeia em paz.”

“Aceito”, berrou, vomitando na estrada.

O menino parou de tocar e ouviu Iku dizer:

“Ah! que fracasso o meu.

Ser vencida por um simples pirralho.”

Então ela virou-se e foi embora.

Foi para longe do povoado, mas foi se lastimado:

“Eu me odeio. Eu me odeio.”

Só as moscas acompanhavam Iku, circundando sua cabeça

descarnada.

Tocando e dançando,os gêmeos voltaram para a aldeia  para dar a

boa notícia.

Foram recebidos de braços abertos todos queriam abraçá-los e

beijá-los.

Em pouco tempo a vida normal voltou a reinar no povoado,

a saúde retornou às casas e a alegria reapareceu nas ruas.

Muitas homenagens foram feitas aos valentes Ibejis.

Mesmo depois de transcorrido certo tempo, sempre que TAIWÓ e KEHINDE passavam na direção do mercado, havia

alguém que comentava:

“Olha os meninos gêmeos que nos salvaram.”

E mais alguém complementava:

“Que a lembrança de sua valentia

nunca se apague de nossa memória.”

Asé!

Ìbejì ou Ìgbejì

É divindade gêmea da vida, protetor dos gêmeos na mitologia iorubá, identificado no jogo do merindilogun pelos odus

ejioko e iká.

Dá-se o nome de Taiwo ao primeiro gêmeo gerado e o de Kehinde ao último.

Os Yorùbá acreditam que era Kehinde quem mandava Taiwo supervisionar o mundo, donde a hipótese de ser aquele o

irmão mais velho.

 Cada gêmeo é representado por uma imagem.

Os iorubás colocam alimentos sobre suas imagens para invocar a benevolência de Ìbejì.

Os pais de gêmeos costumam fazer sacrifícios a cada oito dias em sua honra.

 O animal tradicionalmente associado a Ìbejì é o macaco colobo, um cercopiteco endêmico nas florestas da África

subsariana.

A espécie em questão é o Colobus polykomos, ou colobo-real, que é acompanhado de uma grande mística entre os

povos africanos.

Eles possuem coloração preta, com detalhes brancos, e pelas manhãs eles ficam acordados em silêncio no alto das

árvores, como se estivessem em oração ou contemplação, daí eles serem considerados por vários povos como

mensageiros dos deuses, ou tendo a habilidade de escutar os deuses.

A mãe colobo quando vai parir, afasta-se do bando e volta apenas no dia seguinte das profundezas da floresta trazendo

seu filhote (que nasce totalmente branco) nas costas.

O colobo é chamado em iorubá de edun oròòkun, e seus filhotes são considerados a reencarnação dos gêmeos que

morrem, cujos espíritos são encontrados vagando na floresta e resgatado pelas mães colobos pelo seu comportamento

peculiar.

Na África, as crianças representam a certeza da continuidade, por isso os pais consideram seus filhos sua maior riqueza.

 A palavra Igbeji quer dizer gêmeos.

Forma-se a partir de duas entidades distintas que coexistem, respeitando o princípio básico da dualidade.

Entre as divindades africanas, Igbeji é o que indica a contradição, os opostos que caminham juntos, a dualidade.

Igbeji mostra que todas as coisas, em todas as circunstâncias, têm dois lados e que a justiça só pode ser feita se as

duas medidas forem pesadas, se os dois lados forem ouvidos.

Na África, o Igbeji é indispensável em todos os cultos.

Merece o mesmo respeito dispensado a qualquer Orisá, sendo cultuado no dia a dia.

Igbeji não exige grandes coisas, seus pedidos são sempre modestos; o que espera como, todos os Orisás, é ser

lembrado e cultuado. 

O poder de Igbeji jamais podem ser negligenciado, pois o que um orisá faz Igbeji pode desfazer, mas o que um Igbeji faz

nenhum outro orisá desfaz. 

Recomenda-se tratar os gêmeos de maneira sempre igual, compartilhando com muita equidade entre os dois tudo o que

lhes for oferecido.

Quando um deles morre com pouca idade o costume exige que uma estatueta representando o defunto seja esculpida e

que a mãe a carregue sempre.

Mais tarde o gêmeo sobrevivente ao chegar à idade adulta cuidará sempre de oferecer à efígie do irmão uma parte

daquilo que ele come e bebe.

Os gêmeos são, para os pais uma garantia de sorte e de fortuna.

Existe uma confusão latente entre Ibeji e os Erês.

É evidente que há uma relação, mas não se trata da mesma entidade, confundindo até mesmo como orisá. 

Por serem gêmeos, são associados ao princípio da dualidade; por serem crianças, são ligados a tudo que se inicia e

brota: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinar das plantas etc.

Ẹ̀jìrẹ́ ará ìṣokún

Ẹdúnjobí
Ọmọ ẹdun tíí ṣeré orí igi
Ọ́-bẹ́-kẹ́ṣé-bẹ́-kàṣà,
Ó fẹsẹ̀ méjèèjì bẹ sílé alákìísa;
Ó salákìísà donígba aṣọ.
Gbajúmọ̀ ọmọ tíí gbàkúnlẹ̀ ìyá,
Tíí gbàdọ̀bálẹ̀ lọ́wọ́ baba tó bí í lọ́mọ.
Wínrinwínrin lójú orogún
Ejìwọ̀rọ̀ lojú ìyá ẹ̀.
Tani o bi ibeji ko n’owo?

Ẹ̀jìrẹ́ okin
Ẹ̀jìrẹ́ ti mo bi, ti mo jo
Ẹ̀jìrẹ́ ti mo bi, ti mo yó
Ẹ̀jìrẹ́ ara isokun
Omó édun nsere lori igi

Ẹ̀jìrẹ́ wo ile olowo ko ló
O wo ile olola ko ló bé
Ile alakisá lo ló
Ẹ̀jìrẹ́ só alakisá di alasó
O só otosi di olowo

Bi Taiwo ti nló ni iwaju
Bééni, Kéhinde ntó lehin
Taiwo ni omode, Kehinde ni ebgon
Taiwo ni a ran ni sé
Pe ki o ló tó aiye wò
Bi aiye dara, bi ko dara

O tó aiye wò. Aiye dun bi oyin
Taiwo, Kehinde, ni mo ki
Eji woró ni oju iya ré
O de ile oba térin-térin
Jé ki nri jé, ki nri  

Àse oo Ibeji ire gbogbo

error: IFA DIZ NO ODU ODUNDARETE: QUEM IMITA FRACASSA!